domingo, 1 de março de 2009

O “solilóquio” nosso de cada dia

Adoro observar, prestar atenção às coisas que estão ao meu redor. Quando estou com tempo gosto de observar os rostos das pessoas desconhecidas nas ruas. E existe lugar melhor para isso que o centro belohorizontino? Miolinho pitoresco esse, que parece um formigueiro. Só descansa em dia de domingo, feriado e durante a madrugada.
Dia de semana é sempre assim: cheio de gente prá lá e prá cá, se esbarrando, correndo contra o tempo atrás de não sei o quê. Olhando nos relógios, nas vitrines. Ou buzinando dentro de seus automóveis no trânsito engarrafado da Av. Afonso Pena, em hora de rush.
Cada um com suas particularidades, num anonimato do cotidiano de uma capital como outra qualquer. O que mais me intriga (inclusive já troquei experiências com amigos meus) é o número de pessoas que falam sozinhas nas ruas. Isso mesmo! Comecei a observar. Parece esquisitice, mas é possível ver cidadãos mantendo um diálogo longo com seus próprios “botões”. Gesticulam, riem, fazem expressões de discordância, mas ao seu lado não tem ninguém.
Você, que lê este texto agora deve estar achando que me refiro a esses “loucos de pedra” que vemos perambulando pelas ruas. Pelo contrário, na maioria das vezes são executivos engravatados, jovens estudantes, mulheres impecavelmente vestidas, símbolos da normalidade. Tentei achar motivos plausíveis para explicar porque isso acontece. De imediato culpei o stress. Essa vida agitada, essa correria, deixa as pessoas meio desorganizadas psicologicamente. Depois pensei nos problemas do cotidiano que nos deixa meio “pirados” e às vezes falar sozinho é a única forma que essa gente tem de extravasar. Pensar em voz alta, talvez. Pode ser crise econômica também. Afinal tudo é culpa da bendita ......
Mas, outro dia ao observar minha filha falando sozinha com suas bonecas, lembrei do “amigo imaginário” da infância. Quem nunca teve um?
As crianças inventam esses amiguinhos invisíveis nos quais ficam horas conversando, brincando e rindo também. Os psicólogos admitem ser saudável isso e vêem nesse comportamento infantil um meio da criança desenvolver sua imaginação e criatividade.
Até um nome poético para o ato de falar sozinho encontrei: “solilóquio”. E pasmem! Existe o verbo soliloquiar no dicionário, que é o mesmo que monologar.
Comecei a perceber que esse negócio de sair por aí aos ventos “parlando” consigo próprio não é assim tão estaparfúdio ....Até no Aurélio tem.....
Quantas vezes vemos um motorista com rádio ligado cantando alegremente em seu carro, mas sem passageiros. Aquele homem falando ao celular ali do outro lado da rua, grita e esbraveja, aponta para uma direção, mas cadê o receptor? É cômico e não consigo segurar o riso...
Mas não é que me peguei também rindo sozinha assistindo a uma comédia de TV, e comentando sobre algo absurdo naqueles jornais sensacionalistas de final de tarde.... Revisando este texto em voz alta....Olhei para o lado: ninguém! Epa!